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Você sabe dizer NÃO?

Ainda sobre os italianos acredito que  posso dizer muitas (ok... ainda é cedo né? ALGUMAS) coisas, e mesmo que eu ache esta afirmação um pouco polêmica, ouso afirmar que ao contrário de nos, brasileiros, os italianos não fazem "rodeios" para dizer o que pensam e querem.
Ontem, ri tanto de um primo que no ápice da sua necessidade de ir logo para a casa da namorada depois de quase um mês sem -la, se depara com o pedido da tia que mora ááááááá do outro lado da cidade, no ponto exatamente contrário ao seu destino, e ele sem querer ser indelicado não conseguia explicar objetivamente que ele já estava atrasado para um jantar romântico depois de tanto tempo longe... O melhor, foi o rodeio que ele fez, e a desculpa que inventou para não pegar mal, afinal negar carona a tia por causa da namorada não pega bem né????
Me diverti bastante vendo o sufoco dele... e até hoje to lembrando das explicações, algo do tipo, "tia me desculpe mesmo, não é por nada..." Oras, se não é por nada então leva!!! rsrsrsrs
Tadinho, tao educadinho o Edu...
Comparando com os italianos, logo quando cheguei aconteceu um caso parecido com meu marido. Estávamos na igreja e no final uma mocinha disse: "Voces vão para a zona tal? Preciso de uma carona..."
Ele naturalmente respondeu: Me desculpe Cristina mas nos vamos para outra tal direção....
Eu choquei né???? Falei, amor mas que falta de educação... O que custa dar uma carona pra moça? Ele olhou pra mim assim, com uma cara de "não to entendendo"... Dai olhei pra Cristina e la estava ela numa boa pedindo carona pra outra pessoa. Entrou no carro, abaixou o vidro da janela e sorridente nos disse, ligo pra vocês durante a semana para marcarmos a próxima reunião...
É estranho perceber como para nós as questões por mais longe que estejam da esfera pessoal é sempre para ela que nos remetemos. Temos medo de ficar de mal ou algo parecido, nesse caso eu que peguei mal...
Tadinho do Ivan não entendeu minha revolta, e quando eu respondi ele disse, "mas se eu não vou para aquele lado como posso leva-la?" 
Simples assim??!!!
Enquanto nossa cultura é de já ir pedindo desculpas por aquilo que nem queremos nos desculpar, dar uma volta pra chegar e dizer mais ou menos o que pensamos e ainda concluir algo como "eu quero te dar uma carona, se ficar bom pra você posso te deixar até tal ponto, mas se não for resolver a gente pode ver um jeito que fique bom pra você e pra mim, apesar de não ser bem o meu caminho.."
Se você, por exemplo, pedir um favor a um italiano e isso não puder ser feito a resposta será direta e reta: "Desculpe, Aline. Mas eu não posso te ajudar..."
A resposta brasileira típica provavelmente seria: "Sabe o que é... Poder agora eu não posso, mas talvez se eu der um jeito no meu horário... Hum... Deixa eu ver.... hoje eu não vou poder te ajudar... mas se você quiser a gente pode ver um outro dia..." 
Se você oferecer doces tipicamente brasileiros, bem docinhos, certamente vai ouvir de algum deles: "Obrigada, mas achei muito doce!"
Numa situação parecida, agora sobre doces italianos que parecem mais biscoitos, muitos de nós talvez disséssemos: "Nossa! Que diferente o sabor... Não é doce como os nossos doces, é meio diferente mas muito interessante" (Que interessante que nada, simplesmente para nos não é doce!!!!!)
Isso não significa que todos os italianos dizem sempre o que tem em mente e nem que todos os brasileiros dão a floreadinha.  Mas estou apenas ilustrando que se for necessário dizer algo eles o dirão sem rodeios e sem preocupação com o resultado do que o outro vai pensar porque isso não faz parte do pensamento, ou melhor, da cultura italiana, e com certeza chocaria a muitos de nos brasileiros.
Parece frio né? Na mentalidade deles, isso não é dar um "fora", e eles também não tem essa coisa de levar nada pro lado pessoal.
Eu aqui no Brasil sempre fui a rainha dos rodeios, confesso que fiquei bem chocada com esse comportamento deles... Devido a minha educação, meus pais tadinhos, buscando fazer o melhor, sempre me ensinaram que a minha "obrigação" era de ser sempre agradável, legal, simpática (se parasse aqui seria ótimo) e que isso me faria querida, portanto não importava o que pudesse acontecer ou o que eu pudesse pensar ou sentir (aqui começava o erro)... Infelizmente sofri muito por essa "obrigação" que se tornou muito pesada...
Hoje que estou mudando muito. Se não gosto, se não quero, se não concordo, to aprendendo a falar... Antes chegava a ser estranho mas hoje ta se tornando cada vez mais natural, além do que, acho que ta me fazendo bem, me sentia muito sufocada por ter que dizer sempre sim e sei que isso me prejudicou muito. Não que esteja me tornando fria, estupida ou egoísta, claro que tudo exige acima de tudo, respeito e cuidado pelo outro, mas viver sempre dizendo sim, um dia destrói o estomago...